Você pode viver sem amigos? Diante dessa questão, é mais provável que mais de um diga: “Claro que você pode! Eu faço, não tenho amigos e estou viva”. É verdade, não vai faltar oxigênio por não ter laços sociais, não para o coração ou desbotamos levados pelo vento só por isso.
No entanto, como você vive sem eles? Experimentamos bem-estar ou somos agarrados de vez em quando pela picada do vazio?
Na verdade, é claro que ninguém perde a vida por não ter pelo menos um amigo. Porém, em muitos casos, esse fato é percebido com certa tristeza, decepção e desânimo.
Basta dizer que um dos motivos pelos quais as pessoas procuram a terapia é o sentimento de solidão, pois não conseguem construir laços sociais sólidos e não têm com quem conversar, rir e compartilhar bons momentos vitais.
As pessoas são seres sociais e o cérebro precisa dessa interação de qualidade com os colegas para desfrutar de emoções positivas, sentir-se validado e encontrar segurança.
Ora, como se aponta a psicologia evolucionista, ter amigos não é necessário para a nossa sobrevivência, mas faz com que a vida tenha uma qualidade superior e que alcancemos a felicidade, de vez em quando.
É possível viver sem amigos?
Costuma-se dizer que a qualidade de nossas relações sociais, é alimentada pelo que vivemos dentro da família. Agora, isso não é totalmente verdade.
Existem aqueles que têm um passado traumático devido a pais abusivos ou carentes de afeto e, mesmo assim, construíram sua verdadeira família com laços de amizade.
Às vezes, o inverso é mesmo verdadeiro: ter uma família amorosa nem sempre garante que faremos amizades fortes.
Por outro lado, e além de tudo isso, ninguém pode negar que bons amigos trazem cor à vida . São descobertas acidentais que, ao contrário da família, não nos são dadas.
E quase sem saber como, tornam-se cúmplices, tesouros inesperados que viajam conosco durante uma certa época ou, às vezes, para sempre. Existem amigos que vêm e vão; é certo. Falsas amizades e amizades que nos tornam uma pessoa melhor.
Porém, há quem, por falta de habilidade social ou também por acumular mais de uma decepção, há muito não os tem. A questão, portanto , é : você pode viver sem amigos?
Você pode viver sem amigos porque somos uma sociedade cada vez mais individualista
Você pode viver sem amigos, isso mesmo. De fato, em um trabalho de pesquisa realizado na Universidade do Arizona pelas doutoras Melika Demir e Ingrid Davidson, foi mostrado algo interessante que nos convida a refletir.
Descobriu-se que, de fato, as amizades são uma variável para se experimentar a felicidade; entretanto, esse fator não é o mais importante, em média, para as pessoas.
O mais decisivo é a satisfação das necessidades básicas e também o sentimento de competência . Sentir-se independente, ter aspectos básicos como alimentação, trabalho, moradia ou até mesmo ter um companheiro é mais desejável. Da mesma forma, outro fator é adicionado e é o das “relações líquidas”.
Como diria o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, a sociedade está cada vez mais individualista. Isso torna os links mais frágeis, não confiáveis e até elusivos. Amigos vêm e vão, raramente duram e embora isso possa gerar desamor, há quem se acostume.
Não preciso de amigos porque interajo socialmente com muitas pessoas
As pessoas precisam ter acesso à interação social cotidiana, pelo menos o mais básico. Conversar com os colegas de trabalho, trocar conversas com os vizinhos, com quem nos vende o pão todos os dias… São momentos que nos fazem sentir bem, a tal ponto que muita gente nem precisa de ir mais longe.
Ou seja, não querem ou não procuram consolidar laços sólidos que se transformem em amizades verdadeiras.
Portanto, esse tipo de interação um tanto superficial é suficiente para certos homens e mulheres, que poderiam dizer com segurança que, de fato, pode-se viver sem amigos.
Não ter amigos fortes tem um custo?
Já sabemos que sim, dá para viver sem amigos. Tem muita gente que carece desse tipo de link por um motivo ou outro e assim supõe, é assim que passa o dia. Agora… talvez esse fato tenha algum tipo de custo psicológico?
É verdade que cada pessoa é diferente e haverá aqueles para os quais bastará o vínculo de família ou de casal. Outros podem até se sentir realizados em sua solidão.
No entanto, não é normal nem recomendado. Além disso, há um fato que devemos levar em consideração: os suicídios são cada vez mais frequentes nesta sociedade individualista e com relações frágeis.
O fato de não termos amigos não nos mata por si só, é verdade, mas torna a vida mais difícil.
As pessoas precisam de amizades de qualidade, figuras nas quais depositar nossa confiança para criar espaços nos quais nos alimentemos emocionalmente.
A amizade torna a existência mais plena, dá-lhe mais sentido e nos oferece aquele tipo de apoio que tanto reverte para a saúde mental.
A ausência desta dimensão cria vazios e feridas em que navegam o descontentamento e a solidão, agarrando-se dolorosamente e distorcendo a nossa realidade.
Não vamos nos privar deles, vamos procurar pessoas com quem compartilhar paixões, com quem crescer, rir, compartilhar… Os benefícios são incalculáveis.
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