As emoções negativas surgem em sua mente e fazem você se sentir triste, com raiva, egoísta, culpado e desanimado, por vezes? Se sim, este artigo pode ser um antídoto para você.
Os pensamentos negativos ou venenos espirituais são chamados de “kleshas” na linguagem iogue. “Kleshas” não são sofrimentos mentais devido ao estresse relacionado ao trabalho ou problemas pessoais. São sim, aflições mentais que estão presentes em sua mente desde o seu nascimento.
Por isso, dissolver os “kleshas” pode eliminar todos os tipos de estresse.
Segundo o budismo, todos os seres possuem uma natureza de Buda. Essa natureza é intrinsecamente pura e imutável, porém, é momentaneamente obscurecida por venenos espirituais.
Uma vez que estes sejam removidos, a natureza de Buda inerente pode emergir e todos os seres podem alcançar a iluminação.
Os venenos espirituais surgem da ignorância e motivam um apego a um “eu” ilusório. Se não forem reconhecidos e pacificados, eles se manifestam em atividades mentais prejudiciais que levam a ações negativas e acumulam carma negativo.
Mantendo-nos assim presos no “Samsara”. Que é o ciclo infinito e carregado de sofrimento de, nascimento, morte e renascimentos. Mantendo-se assim até que consigamos evoluir.
Todos nós enfrentamos desafios na vida. É isso que constrói o caráter e nos torna mais fortes. No entanto, ter as ferramentas para superar esses desafios é o que é mais importante. A boa notícia é que a sabedoria oriental possui algumas dessas ferramentas.
Quais atitudes diárias envenenam a nossa vida e nos impedem de avançar?
Existem cinco venenos espirituais principais que precisam ser neutralizados. São eles: “Avidya” (ignorância), “Asmita” (egoísmo), “Raga” (apego), “Dvesa” (aversão) e “Abinivesah” (medo da morte).
Alguns dos venenos espirituais nos afligem diariamente em um nível sutil, mas outros podem ser muito opressores e causar grande dor.
O que todos esses venenos têm em comum, no entanto, é que eles nos impedem de aproveitar plenamente a vida. Impede-nos de estar verdadeiramente presentes no agora e de termos uma sensação de liberdade.
Continue lendo para descobrir como cada veneno pode nos afetar e como podemos superar esses desafios no caminho para a iluminação.
Avidya, a ignorância
“Avidya” é todo pensamento, carma ou experiência que o impede de conhecer sua verdadeira identidade. Sua verdadeira identidade não é o sobrenome que você recebeu de seus pais ou o trabalho que você faz. Tão pouco é medida pela riqueza que você possui.
Todas essas identidades que obtivemos após o nascimento são secundárias. No entanto, quando limitamos nossa percepção apenas a essas identidades, isso é chamado de “avidya”.
A palavra sânscrito “vidya” significa “conhecimento verdadeiro”. Ou seja, um conhecimento interior profundo e uma sabedoria superior. Já o prefixo “a” significa “não”.
Portanto, podemos entender que a palavra “avidya” se refere a uma falta de conhecimento ou ignorância espiritual.
Muitos textos budistas descrevem “avidya” como o tronco da árvore do sofrimento, com todos os outros venenos espirituais ramificando-se dele.
“Avidya” é possivelmente um dos obstáculos mais desafiadores a superar no que diz respeito a encontrar a felicidade. Pois, a ignorância nos mostra o mundo através de uma lente muito difusa, que muitas vezes é descrita como um “véu”.
Com o véu de “avidya” cobrindo nossos olhos, não vemos a realidade. Ao invés disso, vemos o que pensamos ser a realidade.
Como lidar com o veneno espiritual da ignorância
Cada um de nós tem uma percepção de como é o mundo. Percepção essa decorrente de nossas experiências passadas, das nossas expectativas e do que acreditamos.
Isso significa que cada um de nós virtualmente criou nossa própria realidade. E que ela, pode ser totalmente diferente da do próximo. Mas ainda assim tentamos coexistir em harmonia.
Quando afligidos por “avidya”, acreditamos que nossos pensamentos são verdadeiros. Que nossas percepções são reais e que o que individualmente acreditamos ser o “certo”, seja a verdade.
Essa falta de conhecimento e sabedoria é a mais difícil de superar. Não porque há muito o que aprender, mas, porque há muito o que desaprender e deixar ir. Por isso, é preciso se desapegar da ignorância.
Asmita, o egoísmo
Quando “avidya”, a ignorância, espalha-se no corpo e na mente, o eu que criamos para nós (nosso nome, fama, dinheiro ou qualquer identidade materialista) começa a dominar o eu verdadeiro (alma).
Por exemplo:
“Eu sou rico” ou “Eu sou pobre”. (A alma, o eu verdadeiro, não é pobre nem rica)
“Eu sou uma pessoa boa” ou “Eu sou uma pessoa má”. (Essa é apenas a sua percepção, conforme as condições atuais).
Asmita, o segundo veneno espiritual, faz-nos sofrer ao encobrir a verdadeira natureza do nosso eu com dezenas de identidades falsas. O termo sânscrito “asmi” significa “eu sou”. Portanto, “asmita” é o sentimento que indica o senso de “eu” em uma pessoa.
É o nosso ego que não nos permite conhecer a realidade da mente, corpo e alma. Dessa forma, o ego passa a ser algo que nos separa e que nos impede de perceber o mundo como ele é.
Como lidar com o veneno espiritual do egoísmo
Lidar com esse segundo veneno é impedir que o sentido de “eu”, “meu”, torne-se a coisa mais importante na vida. O sofrimento surge quando nos tornamos focados no ego e, em vez de se expandir e florescer, nossa consciência encolhe e nos tornamos egoístas.
Quanto mais eu penso que sou a coisa mais importante do mundo, e quanto mais foco é colocado sobre mim, mais pressão eu sinto. Afinal, parece que o mundo inteiro gira em torno de mim.
Qualquer interrupção ou perturbação que ocorra é considerada muito maior do que realmente é. O antídoto seria tirar o foco obsessivo do “eu” e olhar mais para o próximo. Além de entender que tudo na vida é transitório.
Raga e Dvesa, o apego e a aversão
Uma vez que “asmita”, o ego, começa a se desenvolver em nós, então nos inclinamos para identidades que surgem com experiências prazerosas.
Por exemplo, você começa a pensar ser definido por sua relação com família, amigos e parentes. Ou talvez por uma marca, ou um produto que te deixa inebriado.
“Raga” é o terceiro veneno espiritual, que nos faz sofrer ao conectar nossa consciência às identidades materialistas (ilusões).
Enquanto “raga” é nosso apego por algo de que mais gostamos. “Dvesa” é a aversão por coisas das quais não gostamos. Por exemplo: você conheceu uma nova pessoa e, após algumas reuniões, vocês se tornam bons amigos.
Isto é “raga”, o apego à experiência prazerosa (início do sofrimento).
Com o tempo, você fica sabendo de alguns maus hábitos de seu amigo, o que causa sérios atritos com ele. Agora, você não o quer como amigo. Isto é “dvesa”.
Você presumiu que seu amigo fosse como você ou tivesse hábitos semelhantes aos seus. Mas, quando as coisas não acontecem com base em nossa zona de conforto, isso resulta em aversão (“dvesa”).
Como lidar com os venenos do apego e da aversão
“Raga” nos atrai porque os humanos pensam que sua felicidade está em fazer algo, ir a algum lugar ou comer algo. Como consequência do exagero, surge “dvesa”, a aversão. Esses são dois lados da mesma moeda, por isso constam juntos neste tópico.
Os humanos não são obrigados a fazer coisas para experimentar a felicidade. Eles próprios podem ser a manifestação da paz suprema e podem viver com alegria cada segundo de suas vidas.
O apego e a aversão podem nos empurrar e puxar em todas as direções. O que significa que, com eles, estamos sempre à mercê do que precisamos, queremos ou gostamos, e do que tememos ou odiamos.
Esse efeito ioiô nos impede de perceber que não estamos vendo a realidade como ela é. Mas reagindo a cada momento de acordo com nossos gostos e desgostos pessoais. Aqueles que construímos ao longo do tempo.
Fugimos das coisas que não queremos que aconteçam, porque pensamos que isso nos fará sofrer. Porém, a realidade é que nada pode fazer um homem realizado, sofrer.
Um homem realizado desfruta das coisas logicamente e entende tudo com a plena consciência que está no caminho correto. Independentemente de apegos e aversões.
Como superar o apego, então? Não se trata de evitar qualquer tipo de prazer, mas de perceber a natureza impermanente do prazer e da dor e observar nossos pensamentos e comportamentos.
A frase “escute seu corpo” pode ser piegas, mas incrivelmente útil ao lidar com apego. Pergunte a si mesmo: “Eu preciso disso ou eu apenas quero? Isso é realmente certo para mim ou só estou apegado?”.
Abhinivesa, o medo da morte
“Abhinivesa” é o quinto veneno espiritual, que é nossa tendência de nos apegar à vida e ao seu prazer. Portanto, é o medo da morte, de perder tudo.
Em certos locais do Oriente, como a Índia e o Nepal, a morte não é tanto um assunto tabu. No entanto, no Ocidente, é geralmente algo sobre o qual evitamos falar.
Esse medo surge quando não queremos perder o que já temos de material. Mas também quando não fazemos algo por medo de perder nossa reputação.
Assim como o medo de entrarmos em contato com o desconhecido de modo geral. Esses medos causam estresse, ansiedade, dúvidas, portanto, ficamos aflitos.
Como lidar com o veneno do medo da morte
Textos hindus e budistas divulgam a noção de que você realmente não é o seu corpo, mas algo muito maior e mais profundo. Por isso, aqueles que vivem em culturas orientais são regularmente lembrados da alma e de que não há nada a temer nesta vida.
Em vez de um apego, essas culturas os tornam mais abertas a novas experiências. Tornam-se mais gratos pela vida, mais gratos pelos entes queridos, mais aventureiros. Com menos ódio, menos egoísmo, menos medo, mais envolvimento com a vida cotidiana e mais capacidade de estar verdadeiramente presentes e imersos no agora.
Estar ciente dos venenos espirituais pode ser desafiador, mas não se preocupe. A solução está em se tornar consciente de cada aspecto do corpo e da mente.
Após tomar conhecimento dos venenos e do que eles podem causar, o processo de busca de soluções pode começar de verdade.
A solução para todos os sofrimentos humanos, é investigar seus pensamentos e ações. Perceber que você é um agente de mudança no mundo, e que a fonte da consciência primordial está dentro de você. Isso diminui o ego.
Quando essa camada de ignorância é removida da superfície, todo sofrimento desaparece automaticamente e então você percebe que a dor é apenas uma ilusão.
Portanto, se você está realmente decidido a se tornar um ser realizado, olhe para dentro, em vez de olhar para fora.
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