É assim que manipulam seu cérebro para que você consuma sem parar

É assim que manipulam seu cérebro e fazem você consumir sem parar

A cada ano o gasto com o consumo de bens e serviços fica maior, apesar do guarda-roupa estar cheio, as estantes estarem lotadas e todos nós já estarmos bem equipados com dispositivos eletrônicos como smartphones, tablets, consoles de jogos e similares.

O ato de consumo em si não é o problema. O consumo é necessário à vida e a sobrevivência de toda e qualquer espécie.

Podemos pensar no consumo benéfico e necessário desde itens básicos como comida, água e roupas, até aos bens que nos trazem acesso à tecnologia, facilidades, modernidades, informação, interação e comunicação como os eletroportáteis tão práticos em nossas casas, ou os indispensáveis gadgets eletrônicos.

Consumir também movimenta a economia, gerando circulação do dinheiro, empregos, e renda, pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e evolução.

O ato de consumir se torna um problema quando deixa de ser consumo, para se tornar consumismo. O consumismo é a prática de comprar excessivamente e sem necessidade, de forma exagerada.

Esse comportamento é mau e tem diversos impactos na vida das pessoas e no equilíbrio do planeta.

Como a publicidade impulsiona o consumismo

Ninguém nasceu consumista. O consumismo é uma prática relativamente recente, um hábito que se tornou uma das características culturais mais marcantes das sociedades atuais.

O consumismo não tem uma causa específica. Esse comportamento é motivado por uma série de fatores intrínsecos e fatores extrínsecos às pessoas.

Como fatores intrínsecos, vamos entender aspectos pessoais de cada indivíduo, que envolvem questões emocionais e aspectos psicológicos como auto conceito e personalidade, necessidade de prestígio, poder aquisitivo, hábitos e interesses, etc.

Para fatores extrínsecos, vemos os estímulos externos ao consumismo, como a mídia com uma massiva carga de publicidade e as estratégias de venda de produtos, produzida pelas organizações empresariais e a propagação de informações entre grupos de pessoas como amigos e família, onde é comum ocorrer uma espécie de desejo pelos bens que terceiros possuem.

Para entendermos o impacto da publicidade sobre os desejos de consumo, vamos verificar primeiro como ela funciona.

A publicidade informa seletivamente sobre recursos e inovações de produtos para fazer com que você os queira (só se pode querer aquilo que você conhece). Ela destaca também um produto entre outros similares de forma concisa e repetitiva.

Todo o processo de publicidade é feito sobre meios psicologicamente calculados. Além das propriedades reais de um produto, são divulgadas soluções individuais de problemas e sonhos relacionados a ele, o que gera uma ideia de valor emocional nos clientes.

Um bom exemplo disso é: quantas peças de roupas com a tendência da moda, por exemplo, podem não funcionar para o seu tipo físico e vão ficar guardadas no fundo do seu armário? E aquele sapato que todo mundo está usando e você comprou, mas não consegue encaixar no seu estilo?

As empresas investem pesado em marketing e publicidade para produzir sensações que relacionam diretamente o fato de ter alguma coisa nova com a felicidade e o status do consumidor.

Que tal você pensar agora sobre o que diz aquela propaganda que mostra um evento em família, cheio de pessoas especiais muito felizes em que não pode faltar o refrigerante que está lotando seu corpo de açúcar, sódio e outras substâncias que podem fazer mal para a sua saúde?

Nesse ponto vemos o efeito da informação externa, juntar-se aos fatores intrínsecos pessoais do consumidor como seus hábitos, seu poder aquisitivo e seus aspectos psicológicos como necessidade de auto afirmação, aprovação e até mesmo ostentação social.

Os contatos pessoais têm uma função informativa semelhante ao impacto da mídia no consumo. Eles permitem comparações diretas e a criação de desejos de consumo: quem tem o brinquedo mais recente? De quem é o carro mais caro? Quem está usando o melhor vestido?

Mas além de publicidade e marketing as empresas promovem práticas ainda mais diretas para induzir e impulsionar o consumo.

Você já ouviu falar no conceito de obsolescência programada?

As empresas de utensílios domésticos e equipamentos eletrônicos desenvolveram produtos que propositadamente deixam de funcionar ou se tornam obsoletos após um determinado espaço de tempo.

Assim, as pessoas são praticamente obrigadas a adquirir versões mais novas do bem ou serviço oferecido.

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O fenômeno da obsolescência programada acontece de forma técnica ou psicológica.

Para a obsolescência técnica, nós já mencionamos a técnica de produzir produtos que deixam de funcionar após determinado tempo, obrigando você a comprar uma nova versão destes mesmos itens.

A introdução de novos softwares ou aplicativos que são executados apenas na última geração de dispositivos é um meio testado e comprovado de convencer os consumidores a comprar um novo laptop, smartphone ou tablet mesmo com o aparelho anterior em bom estado de conservação.

Já a obsolescência psicológica acontece quando despertado no consumidor o desejo de, mesmo possuindo um produto funcionando em perfeito estado de conservação, adquirir um novo produto sentindo-se insatisfeito por considerar o seu item ultrapassado após o lançamento de novos produtos em um espaço de tempo relativamente curto.

Vemos gigantes da tecnologia produzindo desta forma, lançando versões novas de seus gadgets com apenas meses do lançamento da versão anterior.

Os impactos do consumismo na sociedade

O comportamento de consumismo leva a uma infinidade de problemas. Alguns deles são bem conhecidos e são objeto de intenso debate público. Outros problemas são menos óbvios e geralmente são negligenciados.

O cidadão comum raramente tem ideia do impacto real em todos os seus aspectos, e os sistemas político-econômicos e muitas empresas estão propositalmente fazendo pouco esforço para aumentar a conscientização sobre isso.

Podemos identificar imediatamente três tipos de problemas como consequências do consumismo:

  • Consequências ambientais;
  • Consequências sociais;
  • Consequências econômicas.

Consequências ambientais

Alto consumo significa uso intensivo de recursos do planeta. A fabricação de tantos novos produtos resulta em maior consumo e exploração de recursos naturais.

Conforme aumenta o processo de produção de bens e serviços, aumenta também a degradação ambiental, com a emissão de poluentes na atmosfera e a contaminação da água e do solo.

Imagine como são feitos todos os produtos que consumimos todos os dias. É claro que o consumo sempre estará relacionado ao meio ambiente. Toda a matéria-prima para a fabricação de alguma coisa foi originalmente retirada da natureza.

Imagine, por exemplo, o processo de fabricação do seu smartphone. Neste processo foram utilizadas matérias-primas e muita energia.

As partes plásticas utilizam petróleo; para os componentes internos como a bateria foram extraídos minerais como cobre e lítio do solo.

E a respeito da eletricidade consumida através dele? Como foi produzida? Que impactos ambientais ocorreram para produzir essa eletricidade?

Alguns hábitos de vida e consumo têm um efeito bem mais negativo do que aparentam à primeira vista.

Exemplos disso são o consumo de carne bovina produzida de forma não orgânica sustentável e a troca de smartphones, computadores e tablets a cada dois anos.

Cerca de 310 000 hectares de floresta tropical são devastados a cada ano para se abrir espaço de pastagens para gado. Isso corresponde à área de um país do tamanho da Inglaterra.

Em smartphones, são instalados até 30 metais diferentes, que são extraídos das rochas com utilização de mercúrio e outros produtos químicos altamente tóxicos.

No final, todos os produtos produzidos se tornarão resíduos a serem descartados em algum momento e isso leva à outra consequência direta do consumismo: a produção de lixo também aumenta em termos de resíduos sólidos descartados.

Quando falamos no e-lixo, ou seja, o descarte de produtos de tecnologia, é necessário todo um cuidado para descartar esse lixo de maneira correta, pois ele possui muitos componentes de plástico e metais pesados que poderão ir parar ao solo e na água.

Estima-se que a cada ano sejam produzidas 40 milhões de toneladas de e-lixo que inclui brinquedos, utensílios domésticos, computadores e telefones celulares.

Consequências sociais  e econômicas do consumismo

Existem casos em que o comportamento compulsivo de comprar associado a sentimentos de satisfação e alegria é tão grave que a pessoa desenvolve o quadro patológico de uma doença chamada Oneomania.

Sabe quando você vai ao supermercado e encontra logo na entrada aqueles mostruários cheios de itens em promoção? Ou quando você recebe um e-mail com a lista de peças de roupas ou sapatos de uma marca que você gosta em liquidação?

Pois é! Você viveu até esse momento sem precisar de absolutamente nada daquilo. Cuidado em acreditar em divulgações de promoções e liquidações que parecem inofensivas — eles induzem você a comprar por impulso!

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O vício de comprar gera uma dependência psicológica causada pela liberação de endorfinas no organismo, com sensação semelhante ao vício de álcool ou outras drogas.

O consumismo afeta diretamente o seu bolso. Pode acarretar comprometimento do orçamento financeiro familiar, inclusive podendo gerar endividamento excessivo ou inadimplência para algumas pessoas.

O sistema de consumismo — dependência e perpetuação

Uma questão muito interessante é que o sistema de consumismo por si só gera mecanismos para que você permaneça em um círculo vicioso.

Hoje em dia as pessoas estão tão preocupadas em sustentar o hábito de comprar coisas que acreditam que necessitam viver aceleradas, motivadas o tempo todo para otimizar o tempo com a finalidade de ter mais dinheiro.

Está sendo programado nelas que isso merece total importância e dedicação do seu tempo.

Sob esse aspecto, são criados produtos cujo consumo é induzido nas pessoas que acreditam que estão obtendo soluções que facilitem sua vida.

É nesse momento que você leva para casa produtos que vão reduzir a ocupação de seu tempo.

Como exemplos, podemos citar alimentos processados ou semi-prontos que lhe pouparão o tempo ocupado ao cozinhar alimentos saudáveis, aparelhos para permitir ouvir áudio livros enquanto trabalha ao invés de gastar seu tempo com a boa e velha leitura.

Você sabe o que e por que está comprando? A razão por trás de uma compra são motivos reais ou você está sendo induzido a isso?

Pense bem!

Consumismo em crianças e adolescentes

Hoje, não conhecemos programas de televisão, internet ou revistas que não anunciam produtos de forma alguma. A publicidade informa, gera interesse, manipula e sugere necessidades.

As crianças e adolescentes são um alvo importante da publicidade, não apenas porque elas passam a desejar algo, relacionado principalmente a um personagem ou marca criado para elas, mas também porque participam opinando ou escolhendo o que os pais compram.

Muitas vezes, os pais acabam por reforçar o comportamento de consumo dos filhos, ao deixá-los expostos demais à publicidade através de televisão e internet, mas, principalmente pelo fato de querer proporcionar tudo aquilo que os filhos desejam.

Assim, os pequenos e jovens são impactados desde muito cedo pela publicidade e tendem a ser mais fiéis a marcas e aos hábitos consumistas direcionados particularmente para eles.

Os riscos são óbvios, principalmente porque crianças e adolescentes não possuem as habilidades necessárias para analisar a publicidade de uma maneira sensata.

O consumismo infantil traz problemas como obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de cigarros e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade, violência, etc.

A mensagem que está sendo passada aos nossos filhos é de que bens de consumo trazem felicidade.

“_Mamãe, papai, posso levar isso?” essa é uma frase que todos os pais e avós que vão a supermercados ou lojas com seus filhos e netos já conhecem.

Um dado importante é que a publicidade dirigida às crianças não se restringe a vender apenas produtos infantis. As crianças são consideradas eficientes direcionadoras do consumo de produtos destinados também aos adultos.

Preste atenção aonde seu filho deseja empregar a mesada dele, ou o salário do estágio, ou do emprego em tempo parcial.

Estudos comprovam que as crianças podem influenciar em até 80% as decisões de compra de uma família atual (TNS/InterScience, outubro de 2003) em itens como carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos.

Quase tudo dentro de casa hoje em dia, leva em consideração o palpite das crianças.

Um exemplo bem prático disso é o consumo de alimentos e bebidas. Antigamente, algo era simplesmente servido na mesa da família.

Hoje em dia, muitas vezes o que é servido, considera o que os filhos gostam ou não de comer e beber.

Ao comprar um carro, muitas pesquisas mostram que os pais seguiram conselhos e sugestões de jovens adolescentes para decidir qual modelo e marca comprar, por achar essa uma boa fonte de conhecimentos adquiridos através de pesquisas e claro, também o que é promovido em propaganda e marketing.

Como combater e evitar o consumismo

Pratique o consumo consciente: antes de comprar, analise com clareza todos os aspectos a favor e contra essa decisão. Reflita sobre a necessidade real de ter aquele produto.

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Você realmente precisa dele? A decisão de compra-lo agora impactará ou não no seu orçamento? Você se preparou financeiramente para a compra deste bem? Você pesquisou preços? Pesquisa de preços pode significar economia de dinheiro.

Moderação com as compras: embora “coisas” possam parecer uma maneira fácil de deixar nossos filhos felizes e mostrar nosso amor, outras atividades podem trazer alegria mais duradoura como relacionamentos e boas experiências em família.

Procure passar mais tempo de qualidade com seus filhos em atividades ao ar livre, artes criativas como incentivar pintura e desenho, aulas de música, incentivos a hobbies, boa leitura, brincadeiras imaginativas, atividade física, projetos voluntários de bondade e ajuda ao próximo, por exemplo.

Também incentive parentes e amigos próximos a proporcionar experiências agradáveis como uma ida ao parque ou ao cinema, ao invés de dar um presente material.

Pratique a gratidão: a prática da gratidão faz você ver o quanto já é abençoado por ter tudo o que precisa e por vivenciar experiências agradáveis e gratificantes com a família, por exemplo.

Você pode tonar a prática da gratidão uma rotina familiar, instituindo conversas divertidas na mesa de jantar (como revezar-se em dizer pelo que cada um agradece naquele dia).

Criar atividades imaginativas relacionadas ao tema como um quadro do jardim de gratidão ou pote da gratidão, feitos pelos pais em conjunto com seus filhos e a leitura de livros que tenham a gratidão como tema.

Aprenda e ensine a doar: a finalidade aqui é clara, dar pode nos deixar mais felizes do que receber.

Cultive o hábito de doar roupas e brinquedos que não são mais utilizados, principalmente quando chegarem itens novos desse tipo.

Procure também, dedicar uma parte do seu tempo e de sua família em atividades que conscientemente se referem a praticar a bondade e servir aos outros, como manter um saco de doação de alimentos em sua casa; decorem cartões para crianças hospitalizadas, fazer brinquedos para cães e gatos resgatados, etc.

Faça uma análise sobre desejos e necessidades: compartilhe as tomadas de decisões financeiras de sua família. Informe seus filhos que você é cuidadoso com o que compra — e que todas as decisões de compra envolvem compromissos.

Que tal, por exemplo, você ensinar seus filhos sobre uma alimentação saudável e incluí-los na missão de adquirir frutas, legumes e bebidas para as refeições?

E sobre a gestão correta do dinheiro? Ensine as crianças a ver que dinheiro é necessário desde a compra da comida, até para sair de férias.

Indique espaços de tempos em que você poderá fazer futuramente a compra de alguma coisa, porque ela não está agora no seu orçamento.

Uma criança pode entender rapidamente que um desejo não pode ser satisfeito imediatamente porque não há dinheiro suficiente disponível e com isso ela pode aprender a poupar e dar valor à sua renda.

Pratique a atenção plena e consciência: algumas semanas após o seu filho fazer uma compra, incentive-o a examiná-lo em retrospectiva: como você se sente sobre o que comprou? Você ainda compraria isso se tivesse que fazer de novo? Por que sim ou, porque não? E claro, também faça isso você mesmo, sempre!

Analise o impacto ambiental: pense sempre sobre o impacto ambiental de suas compras e compartilhe isso com seus filhos, incluindo a embalagem, a forma como se utiliza recursos naturais para produzir, a forma correta de descartar quando não for mais útil. Trabalhe em direção a zero desperdício.

Pratique o entendimento: explique que as compras induzem o nosso cérebro a produzir dopamina e endorfina, substâncias químicas que levam a mente a pensar erroneamente que bens materiais trazem felicidade duradoura.

Chame a atenção para outros motivos pelos quais as pessoas querem tanto “coisas”, incluindo o impacto que a publicidade gera sobre elas. Depois, fale sempre de propostas e experiências não materialistas para encontrar prazer mais saudável para nós — e para o planeta.

Esteja consciente!

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