As redes sociais estão presentes na vida da maioria das pessoas, quer você tenha um perfil ou não, o seu rosto pode facilmente ir parar ao Facebook através de um amigo ou familiar.
É um frenesim onde tudo tem de ser documentado, datado e postado; desde à cara com que se acorda até ao último suspiro antes de dormir, tudo é exposto nas redes sociais.
Estudos indicam que a maioria dos usuários que partilham conteúdo nas redes sociais, o fazem apenas para passar uma impressão de quem eles são.
“As pessoas tentam mostrar que são inteligentes e que têm certos valores.” disse Adriana Manago que é professora de psicologia da Universidade da Califórnia.
Outros estudos apontam também, que a desinformação é frequentemente encontrada nas mídias sociais e o público é facilmente enganado, pois, se deixa levar pelo ego e não pelo real conteúdo das publicações.
Aqueles que partilham conteúdo sem ler, têm excesso de confiança, pois pensam que sabem mais do que realmente sabem.
Deixam-se levar apenas pelo que está escrito no título da matéria sem saber o seu real conteúdo, entretanto, comentam, partilham e assim a desinformação e propagação de fake news torna-se um problema grave e de grandes proporções.
A era da desinformação
Recentemente, a NPR (National Public Radio) realizou um experimento onde ficou claro o quanto as pessoas interagem com o conteúdo postado nas redes sociais sem ler o que está na matéria, ou seja, sem ter um real conhecimento do assunto.
No dia da mentira a NPR postou um artigo no Facebook com o seguinte título: “Porque ninguém mais lê?”. Foi uma enxurrada de respostas que resumiam as piores suspeitas e estereótipos sobre a queda da sociedade, de como isso era vergonhoso, etc.
Eles fizeram de tudo, menos ler o que estava escrito no artigo, pois o texto não era sobre as pessoas não lerem mais e sim uma espécie de pegadinha, e ao que parece, a maioria caiu.
A NPR concluiu com esse experimento que as pessoas formam opiniões muito rápido com base em pouquíssima informação, e que compartilham e comentam sem ao menos clicar.
Um estudo feito por cientistas da computação da Universidade de Colúmbia e do Instituto Nacional Francês, concluiu que 59% dos links compartilhados no Facebook nunca foram clicados.
Em outra pesquisa realizada pela Social@Ogilvy e SurveyMonkey, cerca de 38% das pessoas partilham conteúdo que consideram “divertido”, ou seja, não promovem uma causa. Nessa mesma pesquisa, entrevistados chineses admitiram que compartilham conteúdo que mostrem quem eles são.
Sendo assim, quando as pessoas partilham um artigo sobre como ninguém mais lê — se elas se consideram grandes leitoras, ou querem passar a impressão de que são — elas vão comentar e compartilhar, pois, isso vai favorecer a impressão que pretendem passar.
Porém, se compartilhar e comentar é algo tão íntimo e pessoal, deveríamos ler e nos informar mais e melhor sobre o que compartilhamos, não é mesmo?!
Estatisticamente não é o que acontece, pois, mesmo que uma pessoa clique em determinado conteúdo é improvável que ela o leia.
A professora de psicologia da Universidade da Califórnia, Adriana Manago, pensa que a maioria dos compartilhamentos estão enraizados na esfera emocional e não na realidade.
“Quanto mais uma mensagem tem a capacidade de despertar nossas emoções, maior a probabilidade dela se espalhar”.
Manago disse ainda que compartilhar ou não uma postagem não tem a ver, propriamente, com a informação e sim sobre como aquele conteúdo se reflete na pessoa que o postou.
Em outro estudo partilhado pela AdWeek, 68% das pessoas partilham conteúdo que reflete nelas como pessoa, ou seja, para dar uma ideia de quem elas são e do que gostam.
No entanto, quem lê apenas os títulos das matérias sem ler o que esta no artigo, recebe pequenas doses de informação, mas têm excesso de confiança, pois julgam saber mais do que realmente sabem.
A maioria dos usuários das redes sociais têm um envolvimento passageiro com as notícias, criando a ilusão de aprendizado.
Um usuário mediano do Facebook clica em apenas 7% das matérias sobre política que aparecem em seu feed, foi o que concluiu um estudo publicado no Research And Politics.
A opinião baseada em pouca informação gera desinformação, ainda mais quando tais opiniões vão carregadas de emoções, já que passar a impressão de que está certo gera satisfação e movida por essa emoção a pessoa não se preocupa em aprofundar o conhecimento.
De acordo com uma pesquisa feita em 2018 pela IDEA Big Data com 1491 brasileiros, 93,1% dos eleitores de Bolsonaro viram notícias falsas sobre a fraude das urnas e 74% afirmaram que acreditaram na história.
Os dados são alarmantes e muitos cientistas afirmam que a falta de aprofundamento — por parte dos usuários — dos conteúdos que são partilhados nas redes sociais, colaboram para a propagação de Fake News.
Segundo o estrategista de mídia social da KQED, Carly Serven, “Notícias rigorosas podem acabar sendo deturpadas no processo de compartilhamento. É realmente preocupante.”
“O problema é quando a postagem na mídia social é tratada como a história completa, e não é.” disse Serven.
O público que apenas lê as visualizações dos artigos é excessivamente confiante em seu conhecimento, especialmente os que são motivados pelas emoções, pois tendem a formar opiniões fortes, no entanto, esse conhecimento é desproporcional.
As mídias sociais, principalmente o Facebook e Twitter, são cada vez mais usadas como fonte de informação, com grande potencial de conhecimento para seus usuários, porém a qualidade da informação é cada vez mais preocupante.
As pessoas raramente leem um artigo até o fim, muitos nem chegam à metade. Se você vir alguém recomendando um artigo nas redes sociais, não deve presumir que essa pessoa leu o conteúdo que está compartilhando, o mais provável é que ela nem saiba do que está falando.
Serven disse que mesmo organizações de notícias de boa reputação acabam contribuindo para a confusão. Não é atoa que estrategistas de mídia social são comuns nas redações; para tentar equilibrar as coisas — cliques, compartilhamentos e leituras.
O problema está em postagens que parecem contar a história toda apenas com o título e naquelas que são criadas para ter uma mensagem simples, mas carregada de emoção. Ambas incentivam o compartilhamento sem ler.
De acordo com o professor e chefe do departamento de comunicações da San Francisco State University, Joe Tuman, “Esse é o tipo de coisa que encoraja o uso rápido e sem pensar no que isso significa.”
“Um emburrecimento — se você quiser — de pessoas que têm a capacidade cerebral para fazer muito mais. Quanto mais consumimos o conteúdo das redes sociais, mais o desejamos.
Nós, meio que nos tornamos programados pela tecnologia que supostamente foi programada para nós. As redes sociais não estão apenas alimentando nossos desejos, mas também os moldando.” disse Tuman.
É assustador pensar que tão poucos clicarão nesta publicação no Facebook e que desses, menos da metade chegará até o fim deste artigo.
Enfim, numa sociedade onde as pessoas vivem tudo de maneira low cost, não era de se esperar menos. Quando não lemos o que partilhamos nas redes sociais, é porque pensamos de imediato que não temos tempo ou simplesmente porque ler é chato.
Tudo o que o ser humano moderno pensa não ter é tempo, mas tempo é tudo o que uma pessoa tem. Tempo é vida. Resta saber, de que forma estamos usando esse tempo de vida.
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